O design inclusivo, tendência apontada pela WGSN, cria projetos que contemplam todos os ocupantes, incluindo idosos, crianças e PCDs
Blog/Por Ana Harada
A acessibilidade é um tema cada vez mais relevante no Brasil e no mundo. Segundo dados do IBGE 2023, 15,6% dos brasileiros têm mais de 60 anos e 8,9% da população brasileira com dois anos ou mais apresenta algum tipo de deficiência. Por essa razão o design inclusivo é não somente uma necessidade, mas também garantia de qualidade de vida para um número crescente de pessoas. Não é à toa que ele é considerado uma tendência pela WGSN.
O conceito do “Desenho Universal” foi criado por Ronald Lawrence Mace na década de 1980 e propõe projetos que possam ser utilizados e aproveitados por todos, crianças, idosos, e também por portadores de deficiência. Essa concepção não se limita à arquitetura, abrangendo também o design de produtos e ferramentas de comunicação, como cartazes e painéis informativos.
No Brasil, a ABNT NBR 9050:2015 oferece os parâmetros técnicos que edificações públicas e ferramentas urbanas devem seguir para contemplar todos os cidadãos, por exemplo inclinação de rampas, sinalização apropriada, altura de degraus e calçadas apropriadas.
No artigo “Por uma gero-arquitetura: a inclusão dos idosos no processo projetual”, o professor de arquitetura da Universidade Federal do Paraná, Antonio Castelnou, levanta pontos a serem considerados no momento de projetar interiores de forma acessível. Entre eles, estão as dimensões das portas e áreas de circulação, barreiras físicas (como degraus e desníveis), revestimentos antiderrapantes, iluminação adaptável e móveis com bordas arredondadas.
Ainda que uma necessidade, o design inclusivo não deve abrir mão da beleza, afinal, a acessibilidade também passa pelas marcas e profissionais do ramo. Produtos e projetos que atendem a esse público de maneira interessante e elegante também representam uma forma de inclusão.
A iluminação apropriada é fundamental em espaços inclusivos para que pessoas com visão reduzida possam se movimentar com segurança. Um bom projeto luminotécnico auxilia na percepção espacial dos ambientes ao criar contrastes com possíveis obstáculos, permitindo a identificação de planos de profundidade.
Nesse contexto, quando possível, deve-se aproveitar ao máximo a iluminação natural, uma vez que, além da clareza volumétrica, ela também agrega o fator de saúde e bem-estar dos ocupantes, garantindo-lhes locais para tomar sol.
Em projetos acessíveis, é imprescindível levar em conta o layout e facilidade de circulação dos ocupantes. Plantas abertas e simples garantem que todos possam se movimentar com facilidade, mesmo com aparelhos de mobilidade, como bengalas, andadores e cadeiras de rodas.
Segundo a ABNT, a circulação de uma cadeiras de rodas, por exemplo, necessita das seguintes dimensões:
a) para rotação de 90° = 1,20 m × 1,20 m;
b) para rotação de 180° = 1,50 m × 1,20 m;
c) para rotação de 360° = círculo com diâmetro de 1,50 m.
Em se tratando de móveis e dispositivos como maçanetas, puxadores e peças como bacias sanitárias, chuveiros e pias, é necessário planejar a altura apropriada e a disposição que garanta fácil acesso.
Misturadores de toque, barras de apoio e sofás e camas mais baixos permitem a fácil utilização por crianças ou PCDs.
Na Brinquedoteca Mar do Amanhã, projeto de Sophia Abraham para a CASACOR Rio de Janeiro 2024, todos os brinquedos e mobiliários foram projetados para serem de fácil acesso e utilização pelas crianças menores.
Outro detalhe não menos importante é o formato e material dos móveis. Evitar peças pontiagudas e quinas bem como vidro ou outras superfícies que quebram facilmente previne acidentes. Hoje, materiais como o MDF podem ser aplicados em superfícies curvas como paredes e bancadas. Essa tecnologia garante beleza e segurança aos projetos.
Um cômodo extremamente funcional e repleto de eletrodomésticos, a cozinha merece atenção especial no que tange à acessibilidade.
Além das dimensões adequadas para fácil circulação, é essencial certificar que armários, bancadas e mesas estejam em alturas apropriadas para o acesso de crianças, pessoas de baixa estatura e cadeirantes. Os mecanismos de abertura também devem ser pensados para aqueles com movimentos reduzidos. Incorporar uma abertura abaixo da pia é recomendável para permitir que pessoas cadeirantes possam utilizá-la.
Nessa cozinha, não há armários superiores, todos foram colocados abaixo da bancada principal. Além disso, junção da cozinha com a área de serviço possibilitou a abertura integral dos ambientes, permitindo que a iluminação natural permeasse por todo o espaço.
Dispositivos de segurança e automação, como assistentes virtuais, também são úteis para garantir o bom uso dos eletrodomésticos, informando se a geladeira ficou aberta, ou se o fogão ficou aceso.
Os revestimentos merecem atenção especial em projetos inclusivos, já que quedas podem ser extremamente perigosas. Opções antiderrapantes no piso - tanto nas áreas secas quanto nas áreas molhadas - são boas escolhas para evitar acidentes.
Diferentes texturas e cores também são úteis para a melhor localização de idosos ou pessoas com visão reduzida. Revestimentos variados auxiliam na hora de identificar possíveis obstáculos, diferenciar ambientes e destacar elementos.
Ambientes para atender a crianças e adolescentes com necessidades sensoriais, TDAH e ansiedade precisam garantir o bem-estar e acolhimento dos seus ocupantes.
Isolamento acústico, texturas agradáveis ao toque e paletas de cores mais neutras garantem que quartos de crianças neurodivergentes, por exemplo, sejam locais de descanso e conforto.
Esse consultório de psicologia foi projetado pela arquiteta Suelen Carlotto para oferecer um ambiente acolhedor e sereno. Cada detalhe, desde a escolha de materiais naturais como madeira e palha, até os tons suaves de verde, foi cuidadosamente pensados para proporcionar um refúgio de tranquilidade.
Em espaços públicos, tratamento acústico nas paredes, iluminação menos intensa ou dimerizável (que pode ter seu brilho ajustado) proporcionam um descanso para quem sofre com superestimulação. A paleta de cores é outro ponto crucial, já que cores podem afetar profundamente a percepção sensorial dos cômodos. Tons mais claros e neutros, como a linha de brancos e off-whites, são ideais para este tipo de projeto.