O crescimento do turismo náutico e do mercado de barcos de luxo abrem caminho para decorações que contemplam a estética e as funcionalidades necessárias para o alto-mar
Blog/Por Ana Harada
Em um país conhecido pelas belezas naturais de suas praias, não é de se surpreender que o turismo náutico seja um grande potencial no Brasil.
Apesar de recente, a indústria náutica - a qual engloba a produção de barcos e seus implementos - movimentou R$ 2,5 bilhões em 2023/2024, segundo a Associação Náutica Acobar. Esse crescimento é evidenciado em eventos do setor como Rio Boat Show e o São Paulo Boat Show. A edição 2024 do último, por exemplo, recebeu 40 mil visitantes.
Frente a esse cenário, abrem-se também novas possibilidades de trabalho para arquitetos, designers e decoradores. O design náutico já é popular no exterior em países como EUA e França, mas promete cair nas graças dos brasileiros, sobretudo no mercado de barcos de luxo.
Estaleiros renomados, como a Azimut, relatam aumentos significativos nas vendas, com crescimentos anuais na casa dos 25%.
Em se tratando de faixa etária, a posse de barcos está se tornando mais comum entre os jovens. Gerações Z e Millennials têm quase o dobro de probabilidade de expressar a intenção de comprar um barco em comparação com as gerações X ou Baby Boomers, de acordo com dados da McKinsey & Company.
Essas embarcações, que podem ser iates, navios de cruzeiros ou até mesmo lanchas, necessitam de projetos de decoração de interiores específicos, que reúnem beleza e extrema funcionalidade, já que ficarão expostos a mais elementos do que um imóvel em terra.
“Estes iates são verdadeiras casas no mar”, comenta a arquiteta Andrea Chicharo, que acompanha seus clientes em todo o processo de criação do projeto, da escolha dos revestimentos até os detalhes finais.
Como os barcos já vêm prontos, existe uma versão preliminar de layout e sugestões de móveis, porém, do mesmo jeito que as casas e apartamentos em terra firme, é possível criar projetos únicos, que refletem a personalidade e estilo dos clientes.
“Meu trabalho é personalizar, procurar novas opções de móveis e soluções de acordo com a identidade da família”, diz Andrea.
A escolha do mobiliário, segundo a arquiteta, é o maior desafio, já que ele não pode obstruir as passagens, deve ser resistente à umidade e não apresentar risco aos ocupantes quando o barco estiver em movimento. “Procuro evitar peças pontiagudas, vidro e cadeiras com muito estofo”, comenta.
Sobre as peças decorativas soltas, ela revela o “segredo” para mantê-las no local certo. “Detalhe que os objetos são presos com fitas dupla face e que a mesa de jantar é fixada no piso”.
Dentre os revestimentos possíveis, os mais usuais são a madeira e detalhes em pedra nas bancadas. É possível, todavia, aplicar outros materiais, desde que sejam resistentes a umidade e a inevitável movimentação do barco.
Isso inclui os MDFs. Tecnologias como a trazida pelo MDF RUC - Resistente a Umidade e Cupim permitem que ele seja levado para o mar. A razão é a fórmula aplicada na resina, que garante uma força de ligação interna mais alta e uma taxa de expansão mais lenta. Esse MDF é indicado para ambientes úmidos, como banheiros, lavanderias e lavabos, projetos residenciais ou comerciais em regiões litorâneas e serranas e também os barcos.
São muitos os estilos possíveis para a decoração náutica, dos mais elegantes até os mais despojados.
Com uma estética clean, o estilo minimalista traz linhas limpas, poucos acessórios e uma paleta geralmente composta por cores claras e neutras, como o branco e offwhite.
Esse estilo cria um visual futurista do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, ressoando com os Millennials, uma geração interessada na compra de barcos.
Em contrapartida, o estilo vintage nos barcos resgata o glamour dos anos 1940 e 1950, trazendo tons amadeirados mais quentes e profundos. Com toques que lembram o Art Déco, essa decoração combina com madeiras tradicionais, tais como as dos padrões Sonora, Caribe, Imbuia e Pau-Ferro.
Apontado como tendência pela WGSN, o Boho Costal eleva a decoração de praia para um outro patamar. Incorporando paletas de azul e branco, o estilo utiliza madeiras claras, padrões listrados e cordas trançadas para recriar a estética charmosa e retrô dos barcos com a graça da combinação de elementos distintos, característica do boho.
Outra tendência também segundo a WGSN, a Modern Mariner é uma releitura mais sóbria e contemporânea da estética náutica, que trabalha com seus elementos de forma mais gráfica e abstrata. Padrões que se inspiram nas ondas e na água, cordas e tranças oversized e madeiras mais escuras são opções para incorporar o estilo.